Ressentimento
Significa não perdoar, não posicionar-se e culpar o outro pelo próprio sofrimento. O ressentido dá ao outro o poder de decidir por ele, para que, caso a escolha resulte em fracasso, estará inocentado da culpa. A culpa está associada ao sofrimento em sua mente, e por extensão, o ressentido busca no âmago fugir do sofrimento psíquico.
O ressentido não confia em si, que serve de amparo ou apoio para si mesmo. Depende então, de modo infantil, de outro, que julga competente e capaz. Ao mesmo tempo, esse outro, sua figura de autoridade, também é alocada uma expectativa de que deve reconhecer o ressentido em suas muitas qualidade e sucessos. Porém, tais qualidades e sucessos são apenas criações imaginadas pelo ressentido. Este, jamais age, mas recusa-se a aceitar sua imaturidade e não formação de caráter, prefere tentar construir uma narrativa que funcione como um atalho.
Sua narrativa atalho é a seguinte: sou virtuoso, uma pessoa feita, só não sou reconhecido pelos outros. Tenho méritos, só nunca tive uma chance de materializá-los. O outro serve para validar os narcisismo do ressentido. Além disso, quando não reconhecido, o ressentido interpreta essa falta, como prejuízo. Para ele é prejuízo, pois ele sente que deveria ter ocorrido o momento de sua glória e validação, ainda que não tenha de fato méritos concretos.
O ressentido, por definição, recusa-se a sentir apenas uma vez. Sente de novo e de novo, re-sente. Sua memória é vasta, e ativamente busca detalhar seu sofrimento, vitimíssimo e miséria. Todo o seu sofrimento precisa ser validado, pois sua identidade depende disso. A vítima inocente e injustiçada. Sem alguém que o veja, seu mecanismo falha. Na solidão, o ressentido é obrigado a se confrontar, e confiar nas próprias pernas.
No deserto a criança prodígio não tem que elogie seus talentos, nem ouvintes atentos. Quando a criança percebe a real solidão, o peso do ressentimento, ela terá a chance de se libertar. De se posicionar, criar e cumprir seus valores, aceitar suas escolhas e os riscos, e, com esperança, perdoar quem julgou ofensor ou opressor.
Assuma tua fraqueza e vulnerabilidade. Perdoe, siga em frente.