A questão fundamental da filosofia
Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia.
Essa é a abertura de O Mito de Sísifo, por Albert Camus. E essa magnífica obra de arte, a Pietà, a resposta ao questionamento.
A vida é um enigma, e muitas vezes nós vemos apenas a face sombria da narrativa da existência. O sofrimento é necessário para atravessar o deserto, no mundo e na alma. Há uma parcela de sofrimento inevitável, outra desnecessária, mas nós optamos por tê-la ainda assim.

O posicionamento da consciência a respeito do sofrimento, é o que define uma perspectiva que considere a vida tolerável e até mesmo valorosa. É quando voluntariamente atribuímos significado às nossas ações, que podemos tolerar o sofrimento.
Não se trata de termos propósito para viver, mas enquanto vivos respondermos a nós e ao universo qual é o nosso propósito.
A única fama durável é o esquecimento. O destino comum, a morte. Não se trata do que tiramos da vida, mas o que deixamos aqui. Um objeto se tornará pó, assim como nosso corpo. Mas um significado pode ser eterno, e durável para toda a humanidade.
“Não há imortalidade senão a memória que fica na mente dos homens… A vida sem glória, sem deixar vestígios de sua existência, é como se sequer tivesse vivido. ” – Napoleão Bonaparte
Por vias com ou sem fé, a humanidade parece convergir para conclusões a respeito de legados. Qual seria o legado da tua vida? E se importa tal legado na grande narrativa do universo. Em síntese, qualquer legado desaparecerá, o esquecimento é o destino de toda memória. Retornar ao pó o destino de toda construção física. O que poderá transcender então, acima de tudo que conhecemos, ao tempo?
A memória que provoca em nossa espécie o desejo de recordá-la. A memória que, por mais que se desgaste de geração em geração, carrega uma essência imortal, que sempre é recordada. O significado é durável. Resta que respondamos: O que é significativo? E porque, qualquer que seja ele, importa no cosmo?
Importa no cosmo, se continuar a preenche-lo, se continuar a existir e influenciá-lo. E só poderá continuar a existir, se os que se lembram estiverem vivos. O que é significativo? O que abre as portas da eternidade. O que favorece a vida e a continuidade da espécie, que defende-a da autodestruição.
Esse significado, foi a vida de Cristo. Foi a filosofia milenar. Foi a história de Sócrates. Foi aquilo que sobreviveu ao teste do tempo. Quando um sábio é feito, ele não diz mais nada sobre si, mas sobre sabedoria em si. O sábio morre, a sabedoria verdadeira não.
A verdade é a mesma, apesar de perspectivas mudarem. Histórias são recontadas, em essência. O que é eterno, é redescoberto, é percebido novamente.
Não criamos a verdade.
Mas vivendo sinceramente, aprendemos a viver conforme a Natureza. A nossa, a do universo.
E quando estamos em harmonia com o incontrolável, somos capazes de ver a face bonita da existência. Ativamos o olhar grato, descobrimos a disposição generosa.
Essa obra de arte e essa reflexão, foram para mim o segundo tesouro mais significativo em minha história. Espero que faça sentido também para você.
Abraço!