Intenção, sinceridade e verdade
Prazer em te conhecer, posso confiar em você?
Na verdade, não.
Mas será que digo a verdade?
Prazer em te conhecer, posso confiar em você?
Na verdade, não.
Mas será que digo a verdade?
Meus valores
Neste espaço, estão expostos os meus valores. Em cada texto, me dei a liberdade de usar o termo “nós”, pois entendo que toda a Natureza está conectada, que somos Um. Mas, embora de fato tenha essa crença, uso uma metáfora interna de que preciso convencer a mim mesmo. Há o personagem da consciência, tentando vender suas ideias, e todos as outras partes internas de uma pessoa que precisam ser persuadidas. Todos “eles”, incluindo a consciência, são eu.
Embora seja útil que os valores estejam em ordem hierárquica, ainda não tenho essa clareza completa. Estão expostos, portanto, sem essa ordem particular.
Este texto pertence a série sobre a descoberta e articulação dos meus valores.
Discurso verdadeiro, sinceridade interior e pureza de intenção
Para mim é importante desenvolver a própria casa, ou morada interior, de modo responsável. A verdade é que não podemos de fato confiarmos em nós mesmos à princípio, quando acabamos de nos conhecer. Isto é, percebermos a relevância do autoconhecimento para viver bem a própria vida.
Para construir então, nossa vida, precisamos harmonizar nosso universo particular com o universo coletivo, neste último há leis naturais inquebráveis, ou as leis da física e da realidade, mais facilmente aceitadas hoje em dia. A humanidade cada vez mais amadurece nosso entendimento da realidade objetiva por meio da ciência, sobre o universo coletivo. Há pouco tempo, porém, iniciamos a investigação subjetiva da realidade com a seriedade científica moderna, por vários motivos.
Percebi, estudando a literatura moral, as religiões e a filosofia, que ainda que possamos aprender muito sobre nós mesmos por meio da sabedoria das outras pessoas e de nossos ancestrais, a natureza é impermanente e constantemente muda e traz mudanças. Em algum ponto de nossa história, precisamos assumir a responsabilidade e a autonomia de representar o agente da natureza que gera a mudança. Como se pela primeira vez usássemos, de fato, o livre arbítrio.
Começamos por influenciar, agora conscientes, o que mais está acessível à nossas ações. Nós mesmos, nossos pensamentos, memórias e emoções. Literalmente, exploramos à nós mesmos com intuito de organizar o conhecimento, elevar nossa eficiência pessoal, lavar crenças antigas e construir novas. É verdade que uma pessoa seja capaz de mudar o mundo, mas antes disso ela pratica sua habilidade de induzir mudança, em si mesma. A matéria-prima mais acessível, é nossa própria consciência.
É quando decidimos no que vamos nos comprometer, no que vamos acreditar e como vamos viver, deliberadamente, que percebemos que precisamos “nos convencer”. E acredite, não é tarefa simples. Quantos de nós já não tentamos estabelecer metas, e por algum motivo, falhamos?
Muitos dos nossos ancestrais tentaram decifrar o enigma, mas o máximo que podemos aproveitar da experiência deles, são meta estruturas, mapeamentos imprecisos e amplos. Arquétipos de vários tipos de enfrentamento pessoal e social.
Ao iniciarmos esse diálogo interno, com essa parte teimosa de nós mesmos, percebemos algo mais assustador ainda. Não precisamos negociar apenas com uma entidade, somos afinal, complexos. Funcionamos como um conjunto de partes, cada qual com sua função, necessidade e interesse.
Agora, a realização mais importante que percebo diante disso, é: quando estamos de fato sozinhos, nesse universo particular, incluo apenas o personagem da consciência controlável, percebemos que não vale a pena mentir para nós mesmos. Se de fato queremos ver realizada qualquer mudança originada pela consciência, precisaremos ser efetivos. E no mundo subjetivo em particular, é mais fácil perceber, que “eles” somos nós. Não vale a pena mentir para eles, não vale a pena mentir para nós mesmos.
Isso tem implicações muito importantes. Fica claro que uma ação no mundo coletivo, pode ser igual para duas pessoas – olhando de fora -, mas acontecem fenômenos muito distintos. É possível realizar uma ação moral, observável, sem a intenção. Mas essa ação se qualifica como uma virtude? Está acontecendo prática verdadeira? Esta prática está construindo uma mudança, dirigida pela consciência?
Poder ser que sim… Mas deixar o espaço da intenção vazio, ou corrupto, gera muitos prejuízos.
Percebi que a intenção importa, e potencializa muito a relevância das experiências, objetivas e subjetivas. Quando estamos preenchidos de intencionalidade, entramos em conexão mais profunda com a realidade, uma negociação mais próxima com “eles”. Nossa experiência é um experimento que está sendo observado!
Quando temos intenção, aprendemos muito mais sobre a realidade, tanto objetiva quanto subjetiva. É por esse motivo, que creio ser vital que não ocultemos a verdade de nós mesmos, seja por meio de mentiras, seja por meio de omissões e até mesmo por covardia de não olhar para a nossa ignorância.
Esse valor, em minha percepção é um conjunto de valores, pode-se dizer que é um meta valor. Um valor para guiar todos os outros. Ele significa ser flexível, dizer a verdade mais sincera que conseguir elaborar, sem temer a incerteza e a ignorância, sem recuar o olhar diante da escuridão do abismo de nossa insuficiência.

“Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”
Friedrich Nietzsche, Além do Bem e do Mal
Ele permite que olhemos com confiança para frente, porque cada passo que demos foi dado com muita sinceridade, da melhor forma que compreendíamos a trilha naquela época. Podemos confiar no passado, com um pouco mais de segurança e coragem. Não significa que construímos um caminho perfeito, imaculado, apenas sincero, e podemos estar sinceramente errados. Viver é eternamente ressuscitar, morrer e renovar, lapidando o entendimento com sinceridade.
Dizer a verdade para si mesmo, não ocultar seus interesses e contradições, e ter a coragem de transformar pensamentos em palavras, faz com que nossa consciência controlável, comece a crescer com verdadeira integridade, sem artifícios. É o que permite que no futuro, confiemos em nós mesmos. É o que permite aceitarmos a verdade, quando entrarmos em contato com ela.
“A verdade só pode ser tolerada se descoberta por conta própria.” – Fritz Perls
Esse valor permitirá que nós sejamos capazes de construir nossa morada interior, nossa verdadeira casa, sobre rocha firme e não sobre areia. O pressuposto é que podemos confiar na verdade. Ainda que não saibamos definir bem o que seja verdadeiro, poderemos confiar na intenção pura, sincera e inocente de nossos compromissos, mas não ingênua. Especialmente os compromissos pessoais e internos.
É desafiador, mas uma forma de ver a vida, sob luz da consciência, é perceber que assim como não conhecemos o planeta e o universo, não conhecemos nosso corpo e nosso universo. E apenas a consciência, apenas nossa pequena dose de livre arbítrio, está diretamente disponível e acessível.
É *você “*contra” seus hábitos, sua fisiologia, sua cultura, a natureza! Não sabemos a extensão das promessas que podemos fazer, não podemos confiar em nós mesmos no início. Nosso 1% consciente, não pode/consegue de fato tiranizar a outra parte. A vontade enfrenta as limitações da realidade, objetiva e subjetiva. Devemos encontrar um método melhor que a tirania.
Sabendo disso, da posição da consciência no mundo, é como nascer de novo. Como antes, também não se sabe bem a regra do jogo. Pelo menos antes, haviam adultos para dar alguma orientação, ou contraexemplos. Agora, porém, estamos de fato sozinhos com nossa memória e liberdade.
Honrar esse valor exige que expressemos o que acreditamos ser verdade, sem ocultar nada, pelo menos para nós mesmos. Afinal, para vivermos bem, governados por nossa consciência e não pelos nossos vícios, precisaremos confiar no poder dela de governar, que ela sabe o que diz, que ela não faz promessas ingênuas e românticas, que sua intenção é digna de confiança.
Muitos pensamentos simplesmente surgem em nosso campo de consciência, a palavra falada por nós é como um pensamento surgir no campo da nossa inconsciência. É como nos comunicamos. Antes da palavra ser expressa para o mundo, ela precisa ser expressa para nós mesmos. É diferente de ver os pensamentos na mente, é incluir um novo “lá”. Se os pensamentos automáticos nascem das nossas crenças nucleares, a palavra dita pela consciência controlável é uma prática de autoafirmação, de validação do valor da consciência. Significa ser, participar da sua vida, e não só obedecer aos seus outros valores.
Da forma que os pais cuidam dos filhos, os filhos cuidarão dos pais na velhice…
Como você cuidar da sua consciência na infância dela, ela cuidará de você em sua velhice.
Seus pensamentos serão de angústia e arrependimento, ou de gratidão e satisfação?

“Nas memórias de qualquer pessoa há coisas que esta não revela a todo mundo, mas tão somente aos seus amigos. Há também outras que ela não contará nem aos amigos, mas tão somente a si mesma e de modo secreto. Por fim, há tais coisas que essa pessoa teme revelar até a si própria, e cada pessoa decente tem acumulado bastantes coisas assim. E mesmo desse jeito: quanto mais decente for a pessoa, tanto mais coisas ela esconde.”
– Fiódor Dostoiévski
Talvez a inocência de uma criança, ou um ato espontâneo e autêntico tenha tanto apelo em nós exatamente porque podemos confiar na inexistência de coisas relevantes ocultas.
Esse valor em ações: Dizer a verdade, pensar com sinceridade, investigar a si mesmo com coragem, validar os próprios sentimentos, necessidades e desejos, aceitar a si próprio.
Este valor creio ser a tradução do cânone Cristão. Jesus é a Palavra de Deus. É o exemplo dado à humanidade, a intenção do Divino materializada em Palavra, na realidade das coisas. É a intenção pura transformada em realidade, empreendida no mundo. Na forma que compreendemos, um ser humano. Não só o ato observável, mas a intenção que o preenche.
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Abraço!
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