Independência Financeira?
Refleti muito sobre a questão, sob ótica financeira, de se não ter que trabalhar para sustentar a vida. Poder ‘fazer’ o que bem entender. Mas conforme amadureci, percebi que não são os milhões na conta que fazem da prosperidade financeira objeto de tanto desejo. Em verdade, é a possibilidade sutil de poder comprar o que ver e desejar, acessar espaços e experiências. A possibilidade é o verdadeiro luxo. Não é o consumo dessas coisas (posses e experiências), mas a possibilidade de tê-las e experimentá-las a qualquer tempo.
A sensação que podemos responder como verdadeiramente sentimos, e pensamos, é um poder da liberdade financeira, até certo ponto. Esse estado emocional, porém, apesar de muitos benefícios, e alívio de ansiedades comuns, não define exatamente a liberdade individual.
O que quero dizer é: após a euforia da liberdade financeira, nosso prisma de interpretação das experiências, e nossa sabedoria para desfrutar do tempo e da liberdade, que são os principais balizadores da harmonia, os recursos críticos. E mesmo com muitos sonhos, uma riqueza produzindo mais riqueza, exponencialmente, vai conseguir abastecer uma pessoa aritmética. Que vive dia após dia, e, mesmo freneticamente sonhando e realizando, tem um limite natural: seu tempo e sua criatividade.
A pergunta chave é: O que vai fazer com sua liberdade? Quanto custa sua paz?
Implicitamente, quero dizer que não é necessário possuir para desfrutar. Não é preciso ter uma Ferrari para dirigir uma, quando quiser. Não é preciso ser dono de uma cobertura com vista para a praia, para morar em uma. Com habilidades específicas, inteligência e autoconsciência é perfeitamente concebível desfrutar de imensa prosperidade, sem grandes ‘compromissos’.
Entenda, o que quero dizer é que a depender de nosso prisma e de nossas habilidades, uma situação é diferente em matéria de estresse e de desafio. Uma tarefa hercúlea para um aprendiz é um passa tempo para um mestre. Por exemplo, para quem sabe o princípio de alavanca, mover algo pesado pode ser menos complicado que para quem não conhece o princípio. Da mesma forma, ao adquirir consciência e habilidades, as situações e os sonhos (e mesmo os desafios cotidianos e mundanos) tornam-se simples, e objetivamente solucionáveis.
A situação: Dirigir uma Ferrari. Qual a alavanca? Como atingir o objetivo, em essência, da maneira mais inteligente possível?
Acesso às possibilidades, de maneira abundante, mas suficientemente moderada.
Essa é a meta para mapear como alcançar independência, a ‘verdadeira’. Moderada, pois, assim como no exemplo da riqueza material, há coisas que não precisamos “possuir”, se pudermos desfrutá-las e acessá-las.
O destino emocional é o verdadeiro desejo por trás de cada sonho. E nesse campo, não somos muito diferentes uns dos outros. Desejamos, em última instância, a felicidade. Aquela além do êxtase de satisfazer nosso delírio egoísta.
Entender sobre destinos emocionais e felicidade, é o que me fez perceber que a liberdade e a independência, são ilusões.
A realidade, é que somos sempre limitados por nosso prisma individual, nossos anseios e medos, e principalmente nossa inconsciência. Podemos, de maneira realista, reduzir nossa sensação de aprisionamento na Matrix. Atingir sensações de ampla segurança e confiança interna. De forma que, a liberdade, a independência verdadeira é:
Consciência & Competência
Sobre isso, há 3 exemplos que menciono, para ilustrar esse pensamento: Steve Jobs, Eike Batista e Flávio Augusto da Silva. Cada uma dessas pessoas já experimentou, ou fez reflexões sobre a possibilidade de perda da riqueza, e de maneira adjacente, do prestígio. Nesses casos, busco perceber se é a riqueza que concede a liberdade.
Flávio Augusto da Silva, apesar de não ter experimentado episódios tão trágicos em sua trajetória sempre expressou de maneira viva seu medo principal: perder a essência. E refletiu em algumas ocasiões como seria sua reação se perdesse tudo. Em sua análise, ele reconstruiria tudo em um terço do tempo. Sinceramente, acredito nele. Mais do que qualquer coisa, é a nossa identidade a última fronteira de nossas possibilidades, e nós governamos essa definição. Em seu livro Ponto de Inflexão, ele relata em um episódio de sua vida, já poderoso e rico, que ainda é o mesmo sujeito que estava no ônibus lotado no Jaburu. E, acredito nele. O ‘zero à esquerda’ no ônibus não pode acreditar que é um nada assim como os poderosos e famosos não podem acreditar que são tudo. Somos sempre os mesmos, e é em nós que devemos confiar e a nós mesmos devemos nossa fé. Ele é livre? Penso que sim. Novamente, não é a riqueza que concede a liberdade.
Neste ponto, creio estar clareando do que se trata independência e liberdade.
Consciência e competência.
É absolutamente importante tornar-se protagonista de suas escolhas para libertar-se da coersão externa. A consciência é um tópico profundo e complexo, mas de maneira simples é a percepção e sensibilidade para saber os próprios limites, a própria realidade e identidade, e finalmente, a essência autêntica. É preciso estar consciente do que se está aprisionado para tornar-se eventualmente livre.
A competência é o aspecto que invoca o poder protagonista para fazer escolhas e lidar com a realidade. Sobre esta, também complexa e profunda característica, por hora basta dizer que é a fonte absoluta de confiança, e principalmente, autoconfiança. Ela emana, afinal.
Sobre o relacionamento entre a competência e a liberdade, neste instante, basta dizer que é a sensação de segurança ampla, a necessidade primordial para o sentimento essencialista da liberdade. Exatamente por nos sentirmos seguros, acessamos criatividade e escolhas autênticas.
Sobre isto, um exemplo me vem a mente:
Ao lado do Hall Sidney Smith, na universidade de Toronto, Canada, várias crianças brincavam de skate nos corrimãos, escadarias, etc. As crianças, quase todas garotos, negavam o uso dos equipamentos de segurança. O ponto era triunfar sobre o perigo, não estarem seguras. Em verdade, o valor e a felicidade da aventura estava justamente em correrem algum perigo. O respeito e recompensa social, era a reputação de ser competente.
“É a competência que faz as pessoas tão seguras quanto é possível que possam verdadeiramente estarem.”
– Jordan B. Peterson, 12 Regras para Vida
Para a vastidão de desafios comuns a todas as pessoas, há algumas competências que hoje julgo potencialmente transformadoras. Dentre essas, creio haver uma semelhança em todas, a qual atribuo a fonte de seus poderes: Elas exigem consciência própria para serem capazes de realizar sua promessa. Todas elas, exigem autenticidade para serem efetivas.
Quero deixar claro também, que essas competências são as que acredito serem perenes. Aquelas que apesar da tecnologia, e as mudanças do mundo, serão sempre fonte de muito poder pessoal. Ainda comentarei sobre outras habilidades relevantes para o nosso tempo, mas antes menciono quais são as fundações do que hoje enxergo como as chaves da independência ‘verdadeira’.
Como as pessoas conquistam liberdade, "rapidamente"?
Self-Reliance
Comecemos pela que não tem uma tradução tão boa, por isso a anuncio em inglês mesmo. O significado dessa virtude, ou princípio, e também habilidade, é ‘autoconfiança’. Entretanto, há um aspecto adicional que eu traduziria como autossuficiência. Essa habilidade, creio ser um amalgama de autoconfiança, fé, otimismo racional, independência intelectual e autocontrole. Além disso, em última instância, um ato de fé forte em si próprio.
O mestre observa o discípulo treinar por horas. E mesmo de longe, percebe seu empenho nos olhos do aprendiz. Após muitas horas o aprendiz está abatido e distante, como se seu espírito tivesse quebrado. O mestre se aproxima, e o aprendiz já diz prontamente que sente muito pelos fracassos e erros do passado, mas o mestre diz que sabe que ele é diferente dos outros, que não é tão talentoso ou competente, e que precisa treinar muito, porém tem um dom especial. Que não é chamativo, mas talvez o mais importante. O aprendiz diz que não precisa dizer coisas para que ele se sinta melhor, e o mestre diz:
– Acha que eu perderia meu tempo com isso? Não… Só estou dizendo que você tem o dom da perseverança e isso o torna um gênio também.
– Isso é verdade mestre? Sabe… eu pensava assim. E acreditava que se tentasse mais duro, talvez 3 ou 4 vezes mais, eu me tornaria forte o suficiente. Mas agora… eu não estou tão seguro. Eu não sei se serei capaz de trabalhar duro o suficiente para vencer o verdadeiro talento. Eu continuo pensando que todos os meus esforços um dia eventualmente vão valer a pena, mas sempre é a mesma coisa. Eu não sou páreo… toda vez que estamos em uma missão sempre sinto minhas pernas tremerem. Eu não sei se posso suportar. As vezes parece que tudo não tem nenhum sentido… como se eu sou perdedor, e sempre serei um perdedor. Eu não sei o que fazer…
– Você está certo, todos os esforços são sem sentido…
Invictus
por Willian E. Henley
“Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.
Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.”
Self-Reliance
por Ralph Waldo Emerson
“O homem é a sua própria estrela; e a alma, que pode torná-lo honesto e perfeito, comanda toda a luz, toda a influência, todo o destino. Nada lhe acontece cedo ou tarde demais. Os nossos atos são os nossos anjos, bons ou maus. São as nossas sombras do destino que caminham ao nosso lado.”
Epílogo de Fortuna do Homem Honesto, de Beaumont e Fletcher
“As pessoas deveriam aprender a detectar e a observar o brilho de luz que, vindo de seu interior, atravessa sua mente, mais do que o brilho do céu de bardos e sábios. Contudo, o homem descarta sem aviso prévio este seu pensamento, pelo fato dele vir de si mesmo.
[…]
Perdoe a si mesmo e receberás a aprovação do mundo.”
– Trechos de Ensaios (Autoconfiança), por Ralph Waldo Emerson
Compre uma cópia do exemplar na Amazon.
Acesse na internet, ou faça o download do texto self-reliance (Autoconfiança) nos links abaixo.
O que será necessário para que você acredite em si mesmo?
Escala
Imagine uma pessoa que cozinhe brigadeiros para vender. É parte do trabalho adquirir os ingredientes, preparar os doces, embalar e prospectar os clientes. Uma única pessoa fazendo todas as atividades dá um bom trabalho, mas também pode haver bons resultados.
Entretanto, se houver mais uma pessoa ajudando ela a realizar uma tarefa específica, pode ser que o esforço total das duas pessoas resulte em mais que o dobro do resultado (expectativa natural gerada, quando duas pessoas participam do empreendimento), mas há uma pegadinha: Pode ser também que renda menos também, que o resultado do primeiro indivíduo trabalhando só.
Qual a diferença entre situações?
Sincronia, comunicação e competências diferentes.
Questione-se: Como multiplicar? Como integrar?
Uma semente em sua mão pode ser uma floresta inteira. O poder de visualização, e de perspectiva ampla e otimista, dá ao indivíduo sensibilidade para perceber a interconexão entre os elementos da natureza. Além disso, desenvolve temperança para lidar com adversidades e o ritmo da natureza.
“A natureza não dá saltos. O homem é uma criatura aritmética, pensa de forma linear.”
Dessa concepção, penso: É por isso que é difícil pensar de forma exponencial, mas ao mesmo tempo, por isso é tão valoroso explorar as possibilidades das ideias humanas. Se acreditamos em nossos limites, mesmo que os naturais, seremos para sempre os mesmos. E, a natureza está sempre em movimento, está em nós a força para expandir os limites das possibilidades e da evolução.Comunicação
“Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive.”
– Jim Rohn
Embora eu seja entusiasta e acredite na força de caráter individual, seria estupidez negar a imensa influência que recebemos diariamente. Desenvolvemos viés, heurísticas e tendências, inconscientemente. Atentar-se à nossas origens, e forças que nos influenciam permite libertarmos de escolhas automáticas e não refletidas. Basicamente, não ser controlado por influência que não escolhemos aceitar.
Self-authoring program cover photo, Jordan B. Peterson’s copyrights reserved
– Barack Obama
– Barack Obama
Um pensamento final. E a comunicação manipulativa?
Esta também só é acessível às pessoas despertas, conscientes e, de certo modo, empáticas. Isto é, capazes de perceber os estados internos de outros, e baseado neste conhecimento agir de modo preciso para atingir resultados específicos, consciente das prováveis reações e sensações do processo, dada sua própria experiência e observação.
Reservo uma reflexão final: Atingir a liberdade (de nos livramos de nossas prisões individuais e das influências externas não elaboradas e resistentes às nossas intenções) e poder ser uma força que molda a realidade e direciona os objetos e as pessoas à um caminho específico (e ainda, é capaz de intervir de forma precisa e intencional no mundo externo e internos de outros) requer ética e responsabilidade? Em resumo, verdadeira e efetiva habilidade de se comunicar e desenhar conclusões implica em responsabilidade?
Penso que, novamente liberdade é uma ilusão. E embora se conquiste muito poder em sua busca, a compreensão final sempre culmina em autoresponsabilidade. Mas ser prisioneiro inconsciente, de si mesmo e de influências externas, visíveis ou invisíveis, não seriam um destino pior?
Minha conclusão: é preciso coragem para assumir a liberdade verdadeira.
Competência e consciência é a maior fonte de segurança, pessoal e para outros também, e ainda que a liberdade implique em responsabilidade, é preferível ao fardo da alienação e do medo. A autoconfiança que a competência traz, especialmente na habilidade de se comunicar bem, é um aliado sem igual para romper nossos limites e consagrar verdadeiras mudanças em nossa realidade.
Para o amadurecimento das habilidades de comunicação, recomendo a seção de recursos de comunicação, com ênfase no curso de oratória online Vox2You ON e o livro O Mito do Carisma.
Seja Autodidata
Autoconhecimento
O último e mais importante conhecimento para a libertação é sobre si mesmo. Na minha opinião, o melhor conselho que se possa dar a uma pessoa é o antigo escrito no portal do templo de Apolo em delfos, na Grécia antiga.
“Conhece a ti mesmo.”
Mas este, é um assunto de grande profundidade e relevância que gostaria de expor separadamente. Até que termine tal reflexão, encerro esta.
Como síntese dos pensamentos aqui apresentados, digo: A liberdade é fruto de consciência e competência. As chaves para conquistar a liberdade são: self-reliance, o pensamento em escala, a habilidade de aprender pelas próprias perguntas e iniciativa, a habilidade da comunicação e, finalmente, o autoconhecimento.
Abraço!