Esta página é reflexo do meu preparo enquanto me graduo.

Documento posicionamentos pessoais e informações relevantes para apresentar o serviço de psicoterapia no futuro, quando me graduar.

Ressalto que a prática da psicoterapia não é prática privativa ou exclusiva de psicólogos, conforme a declaração categórica do CFP no lançamento da resolução 13/2022 sobre a prática da psicoterapia por psicólogos. A prática da psicoterapia, portanto, na legislação, pode ser exercida livremente por psicoterapeutas e terapeutas tanto como por psicólogos, mas não me intitulo terapeuta, ou psicoterapeuta, ou psicólogo, e nem presto o serviço de psicoterapia.

Sinta-se à vontade para falar comigo nos botões de WhatsApp, só quero deixar claro que ainda não atendo.

A linguagem em alguns textos, e verbos no presente, como: “utilizo”, “faço”, “penso”, “entendo”, “contrate-me”; podem levar à interpretação de que no presente exerço a função, mas coloco esta tarja para esclarecer este ponto também. Estes textos são construídos de forma a apresentar uma página em versão final, justamente para que esteja pronta quando me graduar, além disso representam minha posição atual frente aos assuntos, porque também há uma função documental para mim escrever sobre minha trajetória e mudanças de ideias ao longo do tempo.

Mindfulness

Mindfulness

Viver com atenção plena no momento presente

O valor de Mindfulness significa o cânone do pensamento budista em minha vida.

Mindfulness é o que surge quando você presta atenção, de propósito, no momento presente, sem julgar, e como se sua vida dependesse disso. E o que surge é nada além da própria consciência.”- Jon Kabat-Zinn

Considero este valor mais como um ideal e uma ferramenta do que um hábito em si, um valor sempre presente. Ainda é improvável para meu estado de maturidade conseguir viver em estado de alerta constante, prestando atenção em todos os eventos de minha vida com a atitude correta. Ainda assim, não posso deixar de perceber que é quando mais preencho minhas experiências de atenção total é que crio memórias significativas, e experimento momentos cheios de intensidade, em várias dimensões e qualidades.

É importante destacar que não adiciono um elemento espiritual à prática de mindfulness em minha vida, e este valor significa simplesmente o treinamento da concentração, a disciplina da consciência controlável. Creio que ao ser capaz de direcionar o meu foco, posso desenvolver muitas coisas com imensa profundidade. Significa para mim ser capaz de governar a habilidade de ter foco. Entrar voluntariamente em estado de flow, entrar voluntariamente em estado de gratidão e aceitação radical da realidade, e finalmente, sentir plenamente a liberdade para direcionar a minha consciência para onde minha vontade deseje.

É conhecido hoje que a prática fortalece nossa capacidade de concentração (duração, frequência, resiliência e intensidade), e também, somada à outros valores positivos, pode potencializar o bem estar como quase nenhum outro recurso. Direcionar a consciência para agradecer, pode gerar explosões de boas sensações internas e subjetivas que abastecem o corpo físico e a boa vontade como nenhuma outra ação.

Em outras palavras, é como ter acesso à uma habilidade suprema de autocontrole, de não reatividade. Creio que buscar viver de forma atenta ao momento presente, por si só, traz muitos benefícios para uma pessoa, mas não paro por aí. Ao adicionar o elemento de não julgamento, o momento presente ganha um aspecto intrínseco de revelação. Se não julgar como as coisas deveriam ser – para mim -, eu passo a ver tudo como é, além da minha visão ego centrada. Assim como um cientista observa um experimento, tentando compreender a realidade, é uma pessoa que vive em atenção plena no momento presente sem julgá-lo. Tudo passa a ser uma revelação da natureza e suas leis misteriosas. Ao abandonar a necessidade de ver a natureza apenas pelo prisma do meu ego, posso ver as cores como são de fato, posso não me fechar em meus critérios e “classificar errado” alguma experiência.

Para mim, sempre foi muito difícil aceitar minha incapacidade de compreender o universo, minha insuficiência de sabedoria e entendimento. Por mais que busque o conhecimento, o entendimento e a sabedoria, jamais alcançará a clareza absoluta, a régua para medir todos os eventos. Mas percebi minha doença, minha sede por conhecimento é um comportamento compensatório para evadir-me de amadurecer minha personalidade diante da “vida real”. Não há problema em explorar o conhecimento, mas o exagero fere a alma. Viver em estado de aceitação radical permanente, e prestando atenção plena, é a chave para transcender o conhecimento, a classificação. Enquanto se vive tentando catalogar os fenômenos, nossa atenção se restringe muito, não percebemos todo o resto, e se tem algo que aprendi em minha vida, foi que há uma interconectividade tão profunda na realidade, que qualquer afirmativa, por mais bem articuladas que sejam suas premissas e axiomas, sofre o imenso risco de ter ignorado variáveis importantes, mas ainda desconhecidas. Em outras palavras, as coisas dão “certo” ou “errado”, por muito mais razões do que conhecemos.

Ao aceitar a insuficiência humana, poderemos caminhar mais humildes dentro do Maya, sem a sede eterna pelo entendimento supremo. E o estado de mindfulness permite a liberdade de faculdades mentais, o que ironicamente amplifica a capacidade de entendimento (intuitivo).

Para mim, adotar atenção plena, não julgamento, e aceitação da realidade em tempo real, traz uma leveza como nenhuma outra experiência que já tive em minha vida. E por terem sido tão vastas as qualidades de se viver assim, optei por articular mindfulness como um valor.

É importante destacar a conciliação de dois elementos: atenção e aceitação radical. Há momentos em que não consigo manter e direcionar o foco, simplesmente me escapa tal habilidade. Não sei explicar porque minha concentração pode durar 1h em um dia e 4h em outro, e não importa. Não me fixo ao passado.

Ao aceitar minhas habilidades e estado de competência presente, posso me livrar de um peso inútil de culpa, de incapacidade e de ansiedade. O meu melhor de hoje, é diferente do meu melhor de ontem, ou o meu recorde. Cada dia é novo. Este valor carrega intrinsecamente, muitas semelhanças com o primeiro, incluindo a flexibilidade radical.

Flexibilidade radical… Paradoxal, não?

Não entendo isso como ter uma mente líquida, complacente. O primeiro valor, sobre pureza de intenção, garante uma complementariedade importante com este de mindfulness. Enquanto me mantenho honesto em relação à necessidade de uma rigidez, posso flexibilizar os parâmetros que regulam minhas decisões de insistir num caminho difícil, ou entender que atingi um limite e devo aceitá-lo.

No início do século XX, Marcel Proust, fez uma intensa investigação sobre como viver a vida e escreveu um grande romance chamado Em busca do tempo perdido. No qual o título já garante a reflexão sobre toda a investigação feita por meio da literatura.

Marcel Proust
Marcel Proust

Como, conforme vivemos, aprendemos o que fazer com o tempo que nos resta? E como aproveitar a vida, de forma que nosso passado, já perdido, possa ter tido significado e relevância para nossas escolhas agora e no futuro?

A vida não tem exatamente manual de instrução. Podemos obedecer aos mandamentos de nossa cultura, espelhar nossos ídolos e modelos, mas observando o mundo se percebe que se nasce dentro de uma cultura ou outra “ao acaso”. Cada definição de felicidade, ou meta valorosa, esta sujeita à uma avaliação amarrada nos parâmetros da cultura e do tempo.

Nós, vivendo em tempos inéditos, miramos o desconhecido. Qual o alvo dentro da escuridão?

O que vejo nessa reflexões, é a dificuldade humana de se relacionar com o tempo. É a necessidade de administrar bem nossos potes de esperança em relação ao futuro, de administrar com sabedoria os potes preenchidos pelo passado.

Como ser um bom filtro? Para que o presente, ao se tornar passado, seja processado com perfeição? Não acumular ressentimentos, não deixar lições valiosas passarem despercebidas? Como não construir ilusões? Como não projetar o futuro com ingenuidade?

“As pessoas desejam aprender a nadar e ao mesmo tempo manter um pé no chão.” – Marcel Proust

Percebi, que a melhor chance que temos é viver atentamente e inteiramente o presente. A vida sincera, consciente, basta. Não seremos filtros perfeitos, não há forma de viver iluminada sem antes ter experimentado o sofrimento. A vida para sempre alegre, torna o valor da alegria indiferente.

É por meio do sofrimento que entendemos a paz e a serenidade. Ao aceitarmos o fato do sofrimento, começamos a viver a vida plenamente, incluindo não só o sofrimento, mas tudo que deriva dele. Uma vida de atenção, permite transformar a experiência, com sua expressa totalidade, em sabedoria verdadeira.

Felicidade e angústia são ambos salutares, a vida é uma composição.

A conclusão de Proust, foi sublime. A forma de viver é preencher a vida com a sutil beleza da natureza e com a contemplação e vivência da arte. Aspecto similar às propostas do príncipe Míchkin, em O Idiota de Dostoiévski.

Por dentro dessas conclusões, vejo semelhanças com a filosofia de Buda e dos Taoístas. Diante da beleza de magníficas obras de arte e a natureza, ficamos mudos, nossa mente analítica fica em silêncio, não consegue processar a beleza. Esse breve momento, é o estado de Mindfulness, de Flow. Ao enxergar esses pensamentos e essas filosofias, percebi que é salutar para mim, cultivar um valor que me conduza a viver esses momentos tão singulares, poderosos e transformadores. Momentos de esvaziamento de métricas e expectativas, de memórias e projeções. De plena aceitação do momento. Nesses vazios, encontro a transformação.

No vazio da mente, a vida preenche. Ao sermos transformados tão diretamente pela realidade, nos calibramos, creio, com o propósito além do ego. O propósito universal, e nos tornamos agentes da própria natureza. Me lembro em minha vida, que os momentos de presença absoluta que experimentei, me preencheram de tamanha vitalidade, que o contágio positivo foi simplesmente catártico para mim e para todos que estavam ao meu redor.

Ao experimentar isso, passo a valorizar viver assim.

Há um outro conceito, japonês, que me ajudou a aprofundar esse valor de forma persuasiva. Auxiliado pela arte, o conceito consegue capturar o significado de modo mais profundo na minha psique. É o conceito de MA (ま), e junto à ele a contemplação de obras de arte que amo, os portais Torii (鳥居).

MA (ま) pode ser entendido como o vazio no presente. Imagine o trajeto do ponto A até o ponto B, no meio desse caminho, acontece a transformação de A em B. O ponto A é o passado, o ponto B uma projeção do futuro, o momento presente, é o trajeto, onde se está agora. O que transforma é o vazio, o caminho é o ingrediente fundamental.

Torii
Torii

O portal Torii (鳥居) é entendido como uma porta, que marca a fronteira entre dois mundos. E ao somar o conceito de MA (ま), significa que o portal inteiro serve para circundar um espaço vazio, e neste espaço vazio, ao ser atravessado, separa dois territórios. No momento que a figura geométrica se fecha, cria-se um espaço vazio com propriedades mágicas.

Que propriedade de transformação é essa? Porque o símbolo do portal torna-se imbuído de poder? Porque não é simplesmente andar de um lado para outro? Porque acreditamos que ao entrar em território sagrado, a realidade mudou?

Penso que o convite desses portais é o de esvaziar-se de pesos do território anterior, de elevar a atenção para o momento que vivemos após a fronteira. É um convite para abandonar preocupações sobre passado e futuro, e ter uma experiência espiritual. Isto é, reordenar valores antigos, e aprender com a natureza e a realidade a transformar o entendimento. Estando atentos e vazios, lapidamos o que emergir em nós e no mundo.

O momento presente é o caminho, é o vazio. Nos transformamos somente agora.

Penso que, novamente somado à outros valores, o mindfulness tem um aspecto de potencializar. A gentileza, por exemplo, ganha poderemos imensos, e constitui carisma e influência poderosos, quando simplesmente estamos presentes. Em um dos livros mais interessantes que já li, O mito do carisma, de Olivia Fox Cabane, na investigação do tema ficou evidente que a escuta plena e a atenção no momento de interação social, cria-se imensa influência e carisma, simplesmente o estar presente. Soma-se a isso uma pitada de gentileza, de gratidão, não julgamento e compaixão, e temos um super poder social.

A presença plena fortalece a conexão social.

Ao refletir sobre todos estes e outros pontos de vista, vejo que o tempo perdido não se refere ao passado, em verdade, o tempo perdido é o presente não preenchido de atenção, e para minha vida, decidi aceitar a insuficiência humana, a dinâmica da natureza e a presença do tempo.

A qualidade de minha vida, é a qualidade que imprimo no meu tempo. E se imprime qualidade, por meio da atenção, da presença completa.

Este valor em ações: Ouvir intencionalmente, ser transparente, relaxar tensões, meditação formal, meditação informal, não julgamento, manejo de pensamentos automáticos, contemplar sem tentar encaixar ou entender, expressar sentimentos espontâneos, aceitar o passado, respirar fundo ao regular emoções fortes, cultivar curiosidade, aceitar a adversidade, a tristeza e o sofrimento, revisar valores, ter compaixão.-

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