Esta página é reflexo do meu preparo enquanto me graduo.

Documento posicionamentos pessoais e informações relevantes para apresentar o serviço de psicoterapia no futuro, quando me graduar.

Ressalto que a prática da psicoterapia não é prática privativa ou exclusiva de psicólogos, conforme a declaração categórica do CFP no lançamento da resolução 13/2022 sobre a prática da psicoterapia por psicólogos. A prática da psicoterapia, portanto, na legislação, pode ser exercida livremente por psicoterapeutas e terapeutas tanto como por psicólogos, mas não me intitulo terapeuta, ou psicoterapeuta, ou psicólogo, e nem presto o serviço de psicoterapia.

Sinta-se à vontade para falar comigo nos botões de WhatsApp, só quero deixar claro que ainda não atendo.

A linguagem em alguns textos, e verbos no presente, como: “utilizo”, “faço”, “penso”, “entendo”, “contrate-me”; podem levar à interpretação de que no presente exerço a função, mas coloco esta tarja para esclarecer este ponto também. Estes textos são construídos de forma a apresentar uma página em versão final, justamente para que esteja pronta quando me graduar, além disso representam minha posição atual frente aos assuntos, porque também há uma função documental para mim escrever sobre minha trajetória e mudanças de ideias ao longo do tempo.

Perfeito

Perfeito, Perfeccionismo utópico

Guerra contra a perfeição

Primeiras reflexões, o exagero máximo para ver o contraste revelador

Um perfeccionista é um ditador que acredita em uma utopia universal em todas as dimensões que pode conceber com toda sua conscienciosidade. Deve ser perfeito! ele grita, com uma ira formidável e inflexível. Não serve do seu jeito, nem mesmo do meu jeito, mas deve ser o jeito perfeito! Engula sua preferência, e aceite o perfeito! Essa falta de empatia evolui para uma tirania se o perfeccionista investir todo o seu ser em sua fixação. Ele se torna fundamentalista, seu ideal é verdadeiro além do questionamento. O ideal se torna também dogmático, o perfeccionista assume a responsabilidade de empreender a construção da utopia, o palácio de cristal. Estética, moral, ética, arquitetura, etiqueta, vestimenta, cor dos olhos… O perfeccionista escatológico é, afinal, atento à todos os detalhes, controla todos os protocolos, dita todas as regras. E quem desrespeitá-las, bem… eu não faria isso!

O que é a ira se não a manifestação do perfeccionista, de que algum idiota rompeu um limite importante? A ira é uma resposta revoltada contra a realidade. Quando uma pessoa deseja algo tão profundamente, e de forma tão rígida e enviesada, que, quando alguém desrespeita tal lei, tal valor, a única resposta cabível é a explosão. A violação se torna uma dor, provoca um sequestro cognitivo, e manifesta uma resposta límbica, emocional.

Nosso ditador perfeccionista é irado. Um idealista incurável, um juiz inflexível. A patologização evolui ainda mais, quando ele se torna dogmático, fundamentalista e intolerante. Com poder, ele eliminará tudo que gere aversão em seu rígido sistema de regras, axiomas e diretrizes. Ele quer tabelar todo o comportamento humano, diagnosticar toda a imperfeição e extirpar a liberdade completamente. O futuro será totalmente previsível, o plano, sem falhas.

Sinta isso em você

Perfeccionismo

Uma provocação: Imagine você, com pressa, entra na escada rolante. O lado direito, é para ficar livre, para que os que tem pressa poderem circular, o lado esquerdo ficam as pessoas que aguardam a escada rolante terminar o percurso. E então, uma criança fica no lado direito, ao lado da mãe, e impede a passagem. Você apressado, sobe 40 dos 100 degraus, e é impedido de continuar pela criança que bloqueia o caminho. Sua pressa é urgente, o que você sente?

Raiva, irritação! Ainda mais porque você está certo! O lado direito é para ficar livre! E ainda assim, o mundo não respeita regras civis… que inusitado! É natural, a falha da humanidade… Mas!

Imagine agora, que essa irritação é contínua. Tudo está no lugar errado, indo na direção errada, sendo que já existe uma solução melhor, as pessoas não fazem o certo, o que devem, há corrupção em toda parte… E assim por diante. Estamos à um passo da mania de perseguição, das teorias da conspiração.

Quanto tempo até a irritação transbordar? Até as críticas mais ácidas começarem a escapulir?

Quem é o perfeccionista?

Inflexibilidade e ira

O perfeccionista é uma pessoa que combina dois aspectos simultâneos: conscienciosidade e neuroticismo (Big Five Personality Theory). Ela se estressa e sente muita ansiedade intensa quando entra em contato com um potencial perigo ou risco, e por poder ver muitos riscos e perigos, é intensificada sua carga de desgaste psíquico. Talvez, até mesmo a duração do estresse seja mais alta que o comum, isto é, se sente por mais tempo e se recupera mais lentamente dos episódios desgastantes. Sua mente calcula incessantemente os riscos, catástrofes e perigos detectados por sua ampla perspectiva.

Imagine uma pessoa inteligente, articulada, atenta à detalhes, bem informada e marcada também por perfeccionismo. É uma tortura contínua. Some a isso, que essa pessoa teve uma infância com episódios contínuos punitivos. Cada erro, uma punição. Cada acerto, outra punição por não atingir padrões mais altos. Cada gabarito reconhecido, no máximo, como o mínimo aceitável. Escassez de elogios, invalidação de emoções da criança, afinal para ser disciplinado, ordeiro e com alta performance, ela não pode tremer a mão, precisa de concentração e precisão… engole o choro, e se concentre para tirar nota 10.

Emoções são, então, inúteis. O que precisa ser enterrado sobre uma boa camada de concreto racional. Nada como uma casa arrumada, que prazer. Rotina previsível, aparência impecável. Como é bom ser perfeito. Quando as imperfeições surgirem, só empurrar pra baixo do concreto. Seja pragmático!

Uma metáfora, muito conhecida no mundo da psicologia, é a de que a água representa as emoções, e puxando dessa metáfora seu significado, vou dizer-lhes como é a história do perfeccionista.

Ele é um engenheiro, construtor e arquiteto de uma imensa represa hidrelétrica. O volume de água que circula, é a intensidade das emoções, a presença delas. O perfeccionista, por seu neuroticismo, tem muita água, e é bem difícil lidar com tantas vozes dentro da própria mente, especialmente quando a lei é a perfeição, e muitas situações fazem brotar muita água. Nada mais eficaz do que construir uma imensa represa de concreto forte, fazer a água parar de inundar as situações.

E à cada crise, à cada tempestade, o reservatório sobe de nível. A água parada, sedimenta e começa a formar uma espessa camada submersa de uma lama escura, densa… Alguns episódios nosso engenheiro admite uma breve abertura de suas comportas. A água é libertada, sob controle é claro, e para fins muito pragmáticos… gerar eletricidade!

Eu diria que eletricidade, é insight, inteligência e ideias inovadoras. Um evento apaixonante, parece mágica, e pode mudar o mundo! A depender de como a vida se desenrole, esse sistema pode funcionar muito bem. Mas…

Não estou aqui para falar dos engenheiros rígidos, disciplinados e brilhantes. Mais ou menos funcionais. Estou aqui para dizer o que acontece quando o reservatório assume proporções oceânicas, ou quando o engenheiro não é capaz de abrir mais as comportas…

O grande muro não tem resistência infinita. E como o engenheiro sabe, a parte mais rígida de uma estrutura é que sofre maior tensão.

O que é sentir tensão? É sofrer!

Quanto mais rígido, mais se sofre. E nosso engenheiro também sabe de alguns detalhes técnicos também, sabe sobre a permeabilidade do grande muro, a água passa, lentamente, mas passa. Ela abre caminho por dentro da grande muralha, e esse caminho enfraquece a força global. O tempo e a água, trabalhando juntos, exigirá reformas até mesmo nas construções mais exemplares.

O grande terror

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Comecemos agora a ver os demônios do perfeccionista. Por que a necessidade de um plano perfeito? Porque previsibilidade e controle é tão importante?

Um relacionamento ruim com o futuro. Uma dificuldade interna de se adaptar, de talvez ter que sofrer mudando, se flexibilizando. É notadamente muito mais fácil usar conceitos antigos do que aprender os novos. É muito mais econômico decorar e cumprir um protocolo do que ficar pensando arduamente frente cada situação, cada pessoa.

Será que o perfeccionista confia em si mesmo? Na própria autoeficácia?

Porque ele evita a todo custo a incerteza, a imprevisibilidade, as infinitas possibilidades?

Somente um super ser poderia enfrentar todas as variáveis com maestria e segurança pessoal. Ele pensa, e eu não sou esse ser. Dessa forma, eu prefiro criar um jogo que eu dite as regras, que eu entenda o que está acontecendo, o que pode acontecer, qual o protocolo se acontecer, etc.

Na base, o perfeccionista teme sua nudez. Teme o futuro, pois tem uma autopercepção de si próprio: sou frágil. E, em muitos casos, exponho aqui o meu próprio, teme tanto os eventos externos quando o inundamento interior pelas emoções em situações adversas em potencial. O medo tem duas camadas: medo dos eventos, medo das próprias reações emocionais. Teme a fragilidade da própria autoeficácia e maestria para lidar com os problemas, quanto a perda do autocontrole e as consequências dessa hipótese.

Não há confiança nem na habilidade prática, e pior, nem na própria capacidade de aprender e se adaptar, e nem no ser misterioso enterrado sob a racionalidade. O medo fundamental é de não ser suficiente frente ao desafio, ser esmagado pela adversidade, não ser capaz de transcender-se. Antes vivo do que destruído pelo processo de enfrentamento.

Mas o desafio de fato esmaga?

O treinamento contínuo do perfeccionista

Excelência e Desempenho

Ordem gera previsibilidade, previsibilidade protege contra a ansiedade e determina cursos de ação e investimentos seguros de energia e compromisso. Aumenta a sensação de controle e autonomia sobre a própria vida, mesmo que custando parte de sua subjetividade. Sente-se seguro dentro da estrutura.

O perfeccionismo nasce do orgulho. Se cria uma máscara, uma autoimagem idealista e utópica a respeito de si próprio. A função desta autoimagem é de proteção contra a vergonha fundamental a respeito da própria insuficiência e senso de valor. Protege também do sofrimento causado pela ansiedade frente à cenários punitivos. Isto é, incorporando-se a autoimagem é reduzida a chance de haver cenários piores de vida. Antes de máscara, e com os custos de tê-la e vesti-la, do que a vida projetada, caso ela não existisse.

O enfrentamento enterrado é: Como reagir aos eventos punitivos, os eventos incertos e incontroláveis? Como lidar com as críticas avassaladoras, o fracasso?

O perfeccionista tem medo da crítica, e, portanto, tenta se blindar delas por meio da ausência de falhas e insuficiências.

Por que?

Uma hipótese é o grande desconforto, e de que ele não sabe lidar, diante da crítica. De uma forma, a cura para o vício do perfeccionismo é a naturalização do enfrentamento da crítica e do desconforto existencial da incerteza.

Os comportamentos de segurança do perfeccionista são:

  1. Evitação aos cenários de enfrentamento incerto, isto é, ele não adentrará em um jogo que não possa ter confirmações de que possa vencer. Jamais fará investimentos com risco de ruína.
  2. Exagero de foco aos detalhes, com o objetivo de blindar qualquer feito exposto.
  3. Procrastinação, afim de resguardar um investimento completo em um projeto, e, este, caso apresente falhas, possa haver uma cobertura compensatória de que pelo menos, o esforço não foi total. O perfeccionista procrastinador acredita que se tivesse empreendido de fato, toda a dedicação, o projeto que falhou teria sido perfeito. Não o foi, pois ele não “quis” se dedicar totalmente. Outra função secundária, é proteger o perfeccionista do esforço exagerado. É simplesmente impossível se esforçar todo o tempo, o esgotamento gera uma necessidade de criar um repertório de justificativas (falta de recursos, compreensão de terceiros, etc.)
  4. Negligência total com parâmetros de qualidade alta, como uma espécie de desistência prévia de se fazer o perfeito. Assim, o perfeccionista preserva sua autoimagem imaculada, simplesmente acreditando que não acessou seus recursos internos.

O perfeccionismo, ao evoluir, passa a consumir o tempo e energia da pessoa em detalhes desimportantes, ou com ansiedade procrastinadora, uma espécie de tortura mental permanente que condena e acusa, de forma que falta energia e recurso para fazer até mesmo outras funções básicas.

Estranho como pareça, a mente gasta sua energia na ideia falsa, para que se mantenha, e falta energia para coisas bem reais e concretas na vida do indivíduo. Como cuidar da saúde, se relacionar socialmente, e etc.

As crenças que sustentam o comportamento perfeccionista, de modo geral, é um treinamento contínuo sob condições bem específicas: viés de atenção focado em falhas, distorção de positivos em negativos (as pessoas só me elogiam por educação, não por qualidade absoluta) e evitação de contextos que possam ser apenas positivos e não favoreçam a crença nuclear de inadequação (em muitos casos). Em outras palavras, o perfeccionista tem um sistema de crenças, que geram opções pré-determinadas nos pensamentos automáticos responsáveis por formular opções de ação para lidar com as situações. Ele joga o jogo de cartas marcadas, onde tudo desfavorece a contemplação realista da realidade.

O perfeccionista, em outras palavras, é especialmente treinado para jamais deixar de sê-lo. Ele não arriscará tentar ser perfeito, se obrigado a agir, jamais admitirá perfeição, se for reconhecido, desqualificará qualquer elogio. Sua mente está calibrada apenas para ver falhas, ele se questiona porque não tirou dez, e nunca como foi capaz de tirar 9,9 e ter tanta excelência em padrões sociais comuns.

O perfeccionista, naturalmente desenvolve excelência. Isso é bom, mas o exagero pela busca pelo perfeito, é a patologia. O perfeccionista sob controle, é simplesmente uma pessoa de altíssima performance, mas equilibrado. O curioso é que o perfeccionista poucas vezes fica obcecado por equilíbrio dinâmico.

Reflita: O maior inimigo é o exagero, a distorção da realidade, a fixação na utopia. A inflexibilidade é a raiz do problema. As crenças nucleares, que corrompem o jogo e disponibilizam os pensamentos primários, devem ser o alvo de uma intervenção escatológica.

Perfeccionismo como um vício

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Fazendo um paralelo com o protocolo dos Alcoólatras Anônimos, e a dependência e vício no álcool, o perfeccionismo e seus comportamentos de segurança são a droga, a bebida. Possuem motivadores internos fortes para que o ciclo se perpetue, esses motivadores podem apresentar resposta similares à abstinência quando cortados os comportamentos de segurança.

O interessante, é que, ao cortar os comportamento de segurança, o estímulo que se está viciado, a bebida, a pessoa passa a ter que enfrentar as necessidades originais que desencadearam o uso da substância, da droga, do comportamento disfuncional e desadaptativo, do sofrimento existencial. A sede humana por harmonia interior.

Imagine o desespero do perfeccionista: Faça como pode, e haverão críticas.

-O que farei com elas?!

-Enfrentará.

Ao imaginar-se, enfrentando o questionamento socrático, as suas respostas dolorosas vão revelar o que precisa de fato enfrentar. Para o caso em análise, penso:

  1. Como lidar com minha insuficiência e vulnerabilidade?
  2. Como lidar com o fracasso, a crítica e a rejeição?
  3. Como lidar com minha ansiedade e sofrimento em momentos de incerteza?
  4. Como lidar com minha culpa, por não ter sido precavido?
  5. Como fazer apenas uma escolha, diante de tantas possibilidades? Como priorizar esforços e objetivos, quando todos são importantes? Como lidar com a perda? O que abro mão quando faço uma única escolha?
  6. Como lidar com o meu apego?
  7. Como lidar com o luto da minha infância e origem dos meus padrões e visão de mundo? Porque não desenvolvi uma visão de mundo mais flexível?
  8. Como lidar com o arrependimento de não ter permitido prazer algum em minha vida em busca de ordem absoluta?
  9. Porque ser tão econômico financeiramente, com medo do futuro? Como lidar com a incerteza do futuro?
  10. Como organizar o meu tempo para fazer o que precisa ser feito? Procrastinação e baixa produtividade é consequência de centralização e perfeccionismo e fixação à detalhes.
  11. Como ser realista em minhas projeções de futuro? Como não catastrofizar e projetar apenas cenários apocalípticos? Como ser realista em minha relação com a realidade?
  12. Como lidar com minha dificuldade de pedir ajuda? Como pedir perdão? Como ser aceito por outras pessoas? Como ser admirado por outras pessoas?
  13. Como confiar em outras pessoas para fazer um trabalho bem feito?
  14. Como lidar com elogios? Como elogiar? Como não permitir que as pessoas “montem” em mim quando sou gentil? Como ser assertivo?
  15. Como lidar com minha ruminação e ressentimento quando as coisas não são do meu jeito?
  16. Como lidar com a corrupção e a moralidade das outras pessoas? Como ser assertivo contra a injustiça? Como não ser moralista e inflexível?

Aversão ao prazer

Hamlet

Se estou sempre em busca de controle, proteção para o futuro, segurança, previsibilidade, blindagem à críticas, e sei, que todas essas coisas são muito trabalhosas para conquistar, e também sei que jamais conseguirei fazer tudo que é exigido, como relaxar?

Há sempre algo a fazer, há sempre algo que pode dar errado.

É incompatível o estado de vigilância constante e o relaxamento. O perfeccionista, normalmente se alia com a racionalidade, e abomina as emoções. Dificuldade sociais são padrão. Raramente elogiam, sentem-se desconfortáveis com demonstrações emocionais. Empatia é quase uma ofensa, pois atesta que o perfeccionista precisa de ajuda. E como nunca aderem ao seu plano tirânico de utopia perfeita, ninguém jamais o entenderá de fato. Pronto: missão isolamento social concluído.

Tirar férias?

-Quando tudo estiver bem, vamos sim…

Resultado: Nunca tudo estará bem. Logo, sem férias.

Armadilhas morais

“O trabalho dignifica o homem.”

A preguiça não será um problema, pelo menos de forma evidente. O perfeccionista que encontre no trabalho previsibilidade e segurança psicológica, se viciará nesse trabalho. E olha que vício bom: Gera dinheiro, gera dignidade, gera uma reputação excelente, gera elogios (afinal, se o perfeccionista é responsável, cada detalhe foi muito bem feito – exceto para o autor, que sempre vê o alvo do perfeito ali, flutuando, ao lado do realizado).

Boxer, o cavalo, no clássico Fazenda dos Animais, de George Orwell, é o nosso amigo perfeccionista. Suas qualidades são notáveis para todos, mas e sua vida e fim?

Uma das formas mais comuns de se cair em uma armadilha mais invisível do perfeccionismo e da rigidez é no trabalho ou papéis sociais que tem uma certa recompensa positiva. Tentar ser o filho perfeito, o pai perfeito, a mãe perfeita, o líder perfeito, etc. Quando algo promete uma recompensa muito tentadora, que te faça pensar que você pode ficar tranquilo e botar o burro na sombra, reflita. Não seria esta conquista apenas mais uma máscara para você usar? Uma identidade para vestir e poder parar de aprender e continuar a se adaptar continuamente?

A minha ferramenta mais importante para identificar se estou preso em uma armadilha é: Qual é a minha fonte de sofrimento agora? O que faço que sustenta esse sofrimento? E não se acanhe em descobrir que ações que tem funções positivas, podem gerar também custos bastante altos.

Será que existe alguma forma, de alcançar o que quero e necessito, mas sem pagar tão caro? Não apenas financeiramente, será que existe outro jogo emocional? Será que existe outro sistema de crenças que seja melhor que o meu hoje? Adianto: Sempre tem!

-Mas sempre é uma palavrinha carregada! Não seria melhor ser flexível?

Exatamente! Diante da eterna impermanência das coisas, o mais sábio a se fazer é estar acompanhando essa impermanência. Sempre adaptável, sempre flexível.

Você escolhe, qual sofrimento prefere? O da fixação e ruminação, ou da experimentação e aprendizado? A mente flexível exige mais de você, mas sinceramente, olhando a história da humanidade e a ciência, ser inflexível não é uma boa estratégia.

O destino da perfeição

Esperança

Pense bem, amigo perfeccionista. Quer ser uma pessoa sozinha? Alguém viciado em um comportamento altamente recompensador, mas incrivelmente cruel e originador de sofrimento permanente? Sentir aversão ao prazer, e ter uma mente moralista que acusa descanso como fraqueza e preguiça? Ter uma baixa produtividade frente ao seu potencial real? Deseja mesmo, ser um tirano impiedoso e inflexível? Olha com bons olhos o dogmatismo e o fundamentalismo? Sente dificuldade de desapegar de coisas? Dificuldade de gastar dinheiro com si próprio? Elogia pouco? Sente-se desconfortável socialmente frequentemente? É difícil perdoar?

Confesso que, ao investigar o perfeccionismo, vi um destino terrível à minha frente, e o temor que senti foi maior que o temor que sentia a respeito das críticas. Ainda não cheguei ao fundo de minha investigação (ela tem que ser perfeita!… tô zuando)

Espero que essa reflexão possa ser o começo de uma jornada para você, para se libertar do cruel vício do perfeccionismo, e das pesadas correntes de uma máscara irreal que consome sua mente continuamente.

O destino da perfeição é cair em um abismo olhando para o céu.

Um abraço,

Arthur

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