Mindfulness
Mindfulness Viver com atenção plena no momento presente O valor de Mindfulness significa o cânone do pensamento budista em minha vida. “Mindfulness é o que surge quando você presta atenção, de propósito, no momento presente, sem julgar, e como se sua vida dependesse disso. E o que surge é nada além da própria consciência.”- Jon Kabat-Zinn Considero este valor mais como um ideal e uma ferramenta do que um hábito em si, um valor sempre presente. Ainda é improvável para meu estado de maturidade conseguir viver em estado de alerta constante, prestando atenção em todos os eventos de minha vida com a atitude correta. Ainda assim, não posso deixar de perceber que é quando mais preencho minhas experiências de atenção total é que crio memórias significativas, e experimento momentos cheios de intensidade, em várias dimensões e qualidades. É importante destacar que não adiciono um elemento espiritual à prática de mindfulness em minha vida, e este valor significa simplesmente o treinamento da concentração, a disciplina da consciência controlável. Creio que ao ser capaz de direcionar o meu foco, posso desenvolver muitas coisas com imensa profundidade. Significa para mim ser capaz de governar a habilidade de ter foco. Entrar voluntariamente em estado de flow, entrar voluntariamente em estado de gratidão e aceitação radical da realidade, e finalmente, sentir plenamente a liberdade para direcionar a minha consciência para onde minha vontade deseje. É conhecido hoje que a prática fortalece nossa capacidade de concentração (duração, frequência, resiliência e intensidade), e também, somada à outros valores positivos, pode potencializar o bem estar como quase nenhum outro recurso. Direcionar a consciência para agradecer, pode gerar explosões de boas sensações internas e subjetivas que abastecem o corpo físico e a boa vontade como nenhuma outra ação. Em outras palavras, é como ter acesso à uma habilidade suprema de autocontrole, de não reatividade. Creio que buscar viver de forma atenta ao momento presente, por si só, traz muitos benefícios para uma pessoa, mas não paro por aí. Ao adicionar o elemento de não julgamento, o momento presente ganha um aspecto intrínseco de revelação. Se não julgar como as coisas deveriam ser – para mim -, eu passo a ver tudo como é, além da minha visão ego centrada. Assim como um cientista observa um experimento, tentando compreender a realidade, é uma pessoa que vive em atenção plena no momento presente sem julgá-lo. Tudo passa a ser uma revelação da natureza e suas leis misteriosas. Ao abandonar a necessidade de ver a natureza apenas pelo prisma do meu ego, posso ver as cores como são de fato, posso não me fechar em meus critérios e “classificar errado” alguma experiência. Para mim, sempre foi muito difícil aceitar minha incapacidade de compreender o universo, minha insuficiência de sabedoria e entendimento. Por mais que busque o conhecimento, o entendimento e a sabedoria, jamais alcançará a clareza absoluta, a régua para medir todos os eventos. Mas percebi minha doença, minha sede por conhecimento é um comportamento compensatório para evadir-me de amadurecer minha personalidade diante da “vida real”. Não há problema em explorar o conhecimento, mas o exagero fere a alma. Viver em estado de aceitação radical permanente, e prestando atenção plena, é a chave para transcender o conhecimento, a classificação. Enquanto se vive tentando catalogar os fenômenos, nossa atenção se restringe muito, não percebemos todo o resto, e se tem algo que aprendi em minha vida, foi que há uma interconectividade tão profunda na realidade, que qualquer afirmativa, por mais bem articuladas que sejam suas premissas e axiomas, sofre o imenso risco de ter ignorado variáveis importantes, mas ainda desconhecidas. Em outras palavras, as coisas dão “certo” ou “errado”, por muito mais razões do que conhecemos. Ao aceitar a insuficiência humana, poderemos caminhar mais humildes dentro do Maya, sem a sede eterna pelo entendimento supremo. E o estado de mindfulness permite a liberdade de faculdades mentais, o que ironicamente amplifica a capacidade de entendimento (intuitivo). Para mim, adotar atenção plena, não julgamento, e aceitação da realidade em tempo real, traz uma leveza como nenhuma outra experiência que já tive em minha vida. E por terem sido tão vastas as qualidades de se viver assim, optei por articular mindfulness como um valor. É importante destacar a conciliação de dois elementos: atenção e aceitação radical. Há momentos em que não consigo manter e direcionar o foco, simplesmente me escapa tal habilidade. Não sei explicar porque minha concentração pode durar 1h em um dia e 4h em outro, e não importa. Não me fixo ao passado. Ao aceitar minhas habilidades e estado de competência presente, posso me livrar de um peso inútil de culpa, de incapacidade e de ansiedade. O meu melhor de hoje, é diferente do meu melhor de ontem, ou o meu recorde. Cada dia é novo. Este valor carrega intrinsecamente, muitas semelhanças com o primeiro, incluindo a flexibilidade radical. Flexibilidade radical… Paradoxal, não? Não entendo isso como ter uma mente líquida, complacente. O primeiro valor, sobre pureza de intenção, garante uma complementariedade importante com este de mindfulness. Enquanto me mantenho honesto em relação à necessidade de uma rigidez, posso flexibilizar os parâmetros que regulam minhas decisões de insistir num caminho difícil, ou entender que atingi um limite e devo aceitá-lo. No início do século XX, Marcel Proust, fez uma intensa investigação sobre como viver a vida e escreveu um grande romance chamado Em busca do tempo perdido. No qual o título já garante a reflexão sobre toda a investigação feita por meio da literatura. Marcel Proust Como, conforme vivemos, aprendemos o que fazer com o tempo que nos resta? E como aproveitar a vida, de forma que nosso passado, já perdido, possa ter tido significado e relevância para nossas escolhas agora e no futuro? A vida não tem exatamente manual de instrução. Podemos obedecer aos mandamentos de nossa cultura, espelhar nossos ídolos e modelos, mas observando o mundo se percebe que se nasce dentro de uma cultura ou outra “ao acaso”. Cada definição de felicidade, ou meta valorosa, esta sujeita à uma