Autopunição
Autopunição injusta e cruel Autopunição Autopunição é um tema universal, mas meu foco é vencer o perfeccionismo. Observe bem esta imagem. É uma sombra originada pelo próprio indivíduo, e o ameaça tão profundamente, que até o seu corpo se retrai. Ela assumiu o controle, não é um mero pensamento. Viver sob sua constante ameaça é sofrimento puro, não só pela ansiedade e o medo, mas há ainda mais violência: vergonha, desprezo e invalidação. O sofrimento de quem convive com esse torturador interno não é originado apenas pelas circunstâncias que vive, mas especialmente pela configuração da sua mente, suas crenças e seus hábitos internos pessoais. Veja, a forma que organizamos nossa vida subjetiva, ou foi organizada em nós, impacta profundamente como processamos as experiências novas, que pensamentos nos vem à mente espontaneamente e, principalmente, o que sentimos diante deles. O perfeccionista tem um hábito fortíssimo de se punir. Sofrendo chicotadas autoinfligidas à cada “erro” que comete, ou melhor, cada tentativa, rapidinho o número de tentativas cai à zero, ele não é besta pra fazer o que faz ele apanhar. A ansiedade sentida frente às situações novas alimenta e habitua o medo. Não só pelo efetivo julgamento externo, mas especialmente pelos efeitos potencializados dessas impressões nas mãos da sombra tirânica. Ela distorce o que cada informação nova significa para reforçar a própria narrativa: de que o esforço, se não for eficaz, eficiente e ‘perfeito’, é lastimável… O medo buscará escapar da dor, lançando um feitiço poderoso sobre o corpo e sobre a mente, e, além disso sugestões mentais, ou os pensamentos automáticos: ‘Não é uma boa ideia’, ‘Vou me preparar melhor antes de começar’, ‘Preciso daquilo para me sentir seguro para começar’, ‘Que diferença faz se não for excelente?’… Eis o diagnóstico amigo perfeccionista: O tirano potencializa a dor com suas distorções; A ansiedade é resposta natural após o cálculo intuitivo sobre o risco e o benefício das situações, e sendo a relação desfavorável, avisa o medo; O medo faz a sua mágica no corpo, quimicamente, e na mente, lançando sugestões medrosas, os pensamentos que você tem espontaneamente. O resultado: Muita ansiedade, muito medo, nenhuma ação. Mas não é só isso, a sombra não brinca em serviço. Ela serve para te proteger, afinal. Ela desenvolve tecnologias para ser mais eficiente em sua tarefa: distorções e vieses de atenção, desqualificação de elogios, e é claro, tortura psíquica. Se a punição for forte o bastante, você estará seguro… Seguro e sofrendo. Conhece alguém assim? Injustiça A autopunição é injusta, simples assim. Ou você acha que a mente humana é letrada sobre virtudes e noções do que é justo? A verdade é que a mente humana é parte de um organismo, que de uma forma é complexo, mas de outra, é burramente simples. Um fato pra você: Os estímulos negativos tem um poder de marcar sua experiência subjetiva cerca de cinco vezes mais forte que os estímulos positivos. Isso, porque funciona, simples assim. Evolutivamente esse aspecto é favorável para a sobrevivência. Entenda, a tendência biológica é notadamente pragmática, o que se usa e é útil é fortalecido, o que é inútil, atrofia. Se um pensamento, por mais injusto que seja, o convence e cumpre a função que ele tinha, o registro biológico é: funciona, então repete quando precisar cumprir essa mesma função de novo. Sabendo disso, você está diante do caminho da solução desse grave problema da autopunição. Você precisa utilizar a consciência, a parte de você que recebe os pensamentos automáticos, e gerar o seu próprio voto. O medo envia o pensamento dele, você o seu. O campo de consciência, será o campo de batalha. Responda aos seus pensamentos automáticos de forma tão pragmática quanto a lei biológica. É real? É válido? É razoável? É justo? De onde vem esse pensamento? Ser refém de nossas circunstâncias e da nossa biologia é um plano meio arriscado se não tivermos tido uma infância ‘perfeita’… Quem nunca teve um trauminha? Pois é, uma hora a maturidade deve participar do jogo emocional. Atravesse a adolescência emocional; Ao enfrentar as punições, articular pensamentos mais maduros, e ir até a fonte primária da tortura psíquica, você terá a chance de enfraquecer a sombra tirânica. Se os seus pensamentos, emoções e o seu corpo voltarem para o “seu lado”, você terá maior chance de lidar com as circunstâncias com assertividade, afinal, lutar contra si e contra o mundo ao mesmo tempo é tenso, e injusto (2×1). Amigo perfeccionista, o primeiro passo para lidar com essa parte da sua condição é quebrar a injustiça da sua autopunição. Capture de volta sua habilidade da autocrítica, ela é muito útil, e é por isso que a sombra sequestra ela primeiro. Se for capaz de avaliar-se com justiça, verá que a sombra não é tão grande, e não é necessário se punir com tamanha brutalidade. A má notícia, é que a sombra não é exatamente uma ilusão. Alguns monstros são reais… Crueldade Não só punir, mas torturar. Dois questionamentos filosóficos para você: Tortura, em algum contexto, pode ser justificada? O que é crueldade? Naturalmente, é bem improvável que uma pessoa defenda o ato de tortura publicamente. Mas, e no mundo subjetivo, onde ninguém tá olhando? Quem nunca se torturou? Quem nunca se confundiu sobre a diferença entre disciplinar e punir? A verdade é que punir é mais prático, educar é laborioso. Educar requer atenção, negociação, coerência, tempo, flexibilidade e paciência. Mais fácil sermos tirânicos com nós mesmos e com os outros! Quando nos torturamos, é melhor que ninguém possa xeretar nossa mente, pelo menos não teremos represálias e julgamentos… Só os nossos! “Se as pessoas soubessem o que cada um faz em sua casa, ninguém sairia na rua.” – Nelson Rodrigues Ao tiranizarmos à nós mesmos o que acontece é o seguinte: invalidamos nossa própria subjetividade. É como se ignorássemos os sentimentos dos nossos sentimentos. Ignoramos o que eles querem dizer. Mas, há um detalhe bem importante que torna essa atitude potencialmente problemática. Se você impõe disciplina e vontade de ferro sobre suas necessidades afetivas e